© FERNANDO KASKAIS Observam o barco, talvez gostassem de estar no barco para poderem gostar de estar em terra. Como diz o poeta; quem cruzou todos os mares cruzou somente a monotonia de si mesmo. Pois, neste mundo, viajantes, voluntários ou involuntários, entre o nada e o nada, ou, entre tudo e tudo, somos todos apenas passageiros, observadores, que não devem dar demasiado importância aos percalços do percurso, ás oscilações da embarcação e, ás imprecisões da trajectória. Continue reading Observatório

© FERNANDO KASKAIS E, afinal, que sentimento havia? A impossibilidade de o ter, o coração fora do peito, desfeito na cabeça, os sentimentos confundidos, um torpor da existência que se esvai, o apurar do ouvido para uma revelação definitiva que nunca aparece. E aquilo, era névoa ou fumo? Subia da terra ou descia do céu? Não sabia, parecia uma doença do ar, mais uma moléstia do olhos que um fenómeno da natureza. Um tédio materializado, próprio, uma impossibilidade de ser o que se é, um corpo imponderável de angustia e desolação, que só quer voar. Continue reading Suicídio

© FERNANDO KASKAIS O inútil é belo porque é menos real que o útil , que se prolonga e continua, ao passo que o maravilhosamente fútil, fica onde está, não passa de ser o que é, vive liberto e independente. O inútil e o fútil abrem na nossa vida real intervalos de estética humilde. Quanta fantasia não há, na mera existência insignificante de uma fita cozida num chapéu. A fotografia prolixamente impressionável não se olvida da maravilha das pequenas coisas. Continue reading Chapéu

© FERNANDO KASKAIS Os barcos orientam-se pelos sinais de luz que o farol transmite. É-lhes indiferente quem esteja dentro desse farol, e neste caso não está ninguém pois é um farolim. O que é importante é que a luz se acenda e os homens nos barcos fiquem satisfeitos, pois julgam que assim existe ordem no mar. Frágeis e ingénuos marinheiros, como se o mar fosse um condutor bem comportado que obedece ás ordens de um semáforo. Continue reading Farol

© FERNANDO KASKAIS A força de uma fotografia reside na sua capacidade em conservar disponível o instante em que o fluxo normal do tempo aparentemente se altera. Esse congelamento do tempo pode produzir leituras novas e mais abrangentes. Nesse momento, a fotografia pode transformar a realidade num absurdo. Continue reading Portal

© FERNANDO KASKAIS A linha recta é uma invenção do sentido da visão humana sob o mandato do princípio da simplicidade. É característica das formas feitas pelo homem mas raramente ocorre na natureza. As linhas rectas parecem rígidas em comparação com as curvas e podem expressar uma sensação momentânea de imobilização, por exemplo, de medo. Continue reading Cobra

© FERNANDO KASKAIS Eles têm um corpo individual, mas os seus movimentos são colectivos, todos os seus movimentos pertencem ao grupo. São criadores de movimento e replicadores de movimento. São homens livres nos seus pensamentos, agem sem constrangimentos para combater a inércia que está sempre ligada a uma certa necessidade de solidão. Movem-se sobre rodas, logo existem, pertencem á pátria dos pedais. Continue reading Tour

© FERNANDO KASKAIS Nuvens, hoje tem consciência do céu, pois há dias em que não o olha. Interroga-se e desconhece-se, nada fez de útil nem fará de justificável. Gastou parte da vida a interpretar confusamente coisa nenhuma. Nuvens, algodões em rama de um hospital sem paredes, só elas são reais entre a terra nula e o céu que não existe. Essas nuvens assumem formas, como aconteceu ao vapor da garrafa da qual saiu o génio das Mil e Uma Noites. Djinn Continue reading Djinn